Estrada de 1840 que serviu a Família Imperial caiu no esquecimento
Laura Antunes laura@oglobo.com.br
Banido ao ostracismo por força do progresso, um caminho sinuoso, em paralelepípedo, que se estende por 12 quilômetros de história e belas paisagens da serra de Petrópolis é conhecido e apreciado por poucos. A estrada Velha da Estrela (também chamada de Estrada Normal da Serra da Estrela) - aberta em 1840 com a honrosa função de facilitar o acesso da Família Imperial até o alto da serra - serve hoje praticamente apenas como opção de quem quer fugir de engarrafamentos na BR-040 (Rio-Petrópolis).
O trajeto, aberto por colonos germânicos, começa em Raiz da Serra e percorre a Serra da Estrela até Petrópolis, revelando paisagens com ângulos inusitados, como a que descortina a Baía de Guanabara e a Baixada Fluminense. Mas desse passado histórico restam apenas as vistas panorâmicas e a mata exuberante.
O caminho, que faz parte da Estrada Real (liga o Rio a Minas Gerais), se tornou, apesar do potencial turístico, alvo de favelização, principalmente na localidade de Meio da Serra, onde, até a década de 50, funcionou a fábrica de tecidos Cometa. A vila operária, que servia às famílias dos funcionários, se transformou em área de construções irregulares. A comunidade se expandiu tanto que hoje chega a ocupar o leito da histórica estrada de ferro Príncipe do Grão-Pará - a primeira ferrovia do Brasil - construída em 1854, ligando Raiz da Serra a Petrópolis e que servia de meio de transporte para a Família Imperial.
De olho nesse potencial turístico inexplorado, a prefeitura de Petrópolis sonha em concretizar uma parceria com o município de Magé e o governo do estado para reativar a ferrovia, por meio de uma obra estimada em R$70 milhões. Com isso, a Estrada Velha da Estrela teria também resgatado seu potencial turístico, acredita o diretor de Turismo da prefeitura de Petrópolis, Aníbal Duarte:
- A reativação da estrada de ferro seria de grande importância para o turismo da região, ainda mais às vésperas das Olimpíadas e da Copa do Mundo. O projeto incluiria a estrada, que passaria pelo processo de revitalização que tanto merece.
O projeto de revitalização inclui a retirada de 250 imóveis das margens da estrada e do leito da ferrovia, o que seria feito em conjunto pelas prefeituras de Magé (por onde passam cerca de cinco quilômetros da estrada) e Petrópolis. Pela parceria, Magé ficaria encarregada de realocar cem famílias e Petrópolis, outras 150. Ao estado caberia a função de construir a nova ferrovia. O projeto, porém, segundo Aníbal, está paralisado desde a turbulência política que tomou conta da prefeitura de Magé e culminou com a cassação da prefeita Núbia Cozzolino.
- Esperamos que, com a posse do novo prefeito, o projeto seja retomado - acrescenta ele.
Enquanto os ventos da revitalização não sopram em direção à Estrada Velha da Estrela, ainda assim vale conhecer esse caminho alternativo Petrópolis. A cada curva, é possível admirar uma bela paisagem, mesmo com tantas construções irregulares e a ausência de mirantes.
Uma curiosidade é o fato de a estrada começar a 50 metros acima do nível no mar (na altura de Vila Inhomirim) e atingir 830 metros de altitude a menos de 11 quilômetros adiante, o que dá ideia de como é íngreme. O calçamento em paralelepípedo dá um ar bucólico à via, cortada por riachos, nascentes, pequenas cachoeiras e uma gruta. Na altura do Meio da Serra, é possível percorrer as ruínas da fábrica Cometa, que ainda preserva as chaminés. A cinco minutos de caminhada do complexo fica a cachoeira das Pedras Gêmeas. A má notícia é que suas águas já são poluídas...
Numa das curvas, uma velha casa, quase em ruínas, também faz parte do roteiro turístico, embora sem comprovação histórica: a Princesa Isabel teria pernoitado no imóvel algumas vezes a caminho de Petrópolis. Hoje, a casa é ocupada pela quarta geração de uma mesma família.
- Todos aqui na região se referem ao imóvel como a "casa da princesa" - conta, orgulhoso, Antônio Salomão, um membro dessa família.
Entusiasta da Estrada Velha da Estrela, o condutor de turismo Amauri Antonio de Menezes organiza grupos de caminhadas pelo trajeto, com paradas na antiga vila operária, nas curvas que revelam belas paisagens e nas ruínas da fábrica de tecidos:
- Toda esta região merece atenção especial por seu valor histórico. A recuperação da estrada e da ferrovia alavancaria o turismo, sem dúvidas.
O Globo/AC
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Assine o manifesto pela volta do trem em Petrópolis e divulgue:
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+55 (21) 9911 - 8365
O viaduto da grota funda da EF Principe do Grão Pará mem quatro momentos, 1885, 1940~60, 1982, e 2008.
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