domingo, 25 de novembro de 2012

A raposa no galinheiro


Vale fará estudos de ferrovias para novas concessões

19/11/2012 - Valor Econômico

A Vale assumiu a responsabilidade de elaborar cada um dos estudos que serão usados na concessão dos 10 mil km de ferrovia planejados pelo governo. O acordo com a mineradora, apurou o Valor, foi finalmente costurado pela Empresa de Planejamento e Logística (EPL) e a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Apesar do prazo extremamente apertado para concluir os projetos, o governo conta com a entrega dos estudos em dezembro, conforme o cronograma apresentado em agosto, quando a presidente Dilma Rousseff anunciou o pacote de concessões de rodovias e ferrovias.


Em menos de dois meses, portanto, a Vale terá que entregar estudos técnicos aprofundados sobre a concessão do primeiro lote de 2,6 mil km da malha. Trata-se dos projetos que irão basear a concessão de dois trechos do Ferroanel de São Paulo (tramos Norte e Sul), uma nova via de acesso ao Porto de Santos, a ligação entre os municípios de Uruaçu (GO) e Lucas do Rio Verde (MT) e a linha que sairá de Estrela D'Oeste (SP) até Panorama (SP) e Maracaju (MS). Por fim, serão entregues ainda os estudos da ferrovia Açailândia (MA) a porto de Vila do Conde, em Belém. As audiências públicas para esse primeiro lote de malhas estão planejadas para janeiro, com publicação do edital de licitação até abril.


O compromisso da Vale foi confirmado pela EPL. Dona da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), que atualmente controla mais de 8 mil km de linhas, a Vale aceitou fazer os estudos sem ganhar nenhum centavo. Em respostas encaminhadas ao Valor, a EPL, estatal recém-criada pelo governo para estruturar ações integradas de logística, informou que "a Vale está fazendo uma doação nos termos das obrigações previstas no contrato de concessão".


Chegou a ser ventilada a possibilidade de que, por trás do interesse da mineradora em elaborar o pacote de estudos, estaria o abatimento de multas milionárias que a FCA teria com a ANTT. Essa hipótese, no entanto, foi descartada. Segundo uma fonte ligada às negociações, não haverá nenhum tipo de abatimento. Por meio da Lei de Acesso a Informações, o Valor questionou a ANTT sobre o valor de multas aplicadas contra a FCA. A agência não informou o montante, sob a justificativa que as transações e os chamados "termos de ajuste de conduta (TAC)" envolvem condições confidenciais.


A decisão sobre quem faria os estudos das ferrovias se arrastou durante mais de dois meses. Enquanto os projetos de concessões de 7,5 mil km de rodovias foram imediatamente passados para as mãos da Estruturadora Brasileira de Projetos (EBP) tão logo anunciado o pacote, os planos ferroviários ficaram em suspense. Até 15 dias atrás, apurou o Valor, ainda não havia qualquer definição sobre quem faria o dever de casa.


Na ANTT, a escolha pela Vale encontrou resistências, um processo que, conforme apurou o Valor, envolveu questionamentos sobre o prazo curto e as motivações da empresa em apresentar estudos técnicos aprofundados. Segundo uma fonte, o interesse em bancar os relatórios estaria atrelado à sua necessidade de se livrar o mais rápido possível de malhas que serão devolvidas pela FCA ao governo e hoje não são utilizadas. Caso do trecho que liga Belo Horizonte a Salvador, que terá que ser praticamente reconstruído, dada as suas condições.


A decisão de elaborar os estudos, no entanto, poderá trazer efeitos colaterais graves para a mineradora, caso a FCA tenha interesse em entrar em algum trecho das novas concessões. Na ANTT, o entendimento é que a empresa ficará automaticamente proibida de participar do processo de concessão de qualquer um dos 12 trechos que serão oferecidos à iniciativa privada. "A decisão não está tomada, mas a interpretação neste momento é de que ela não possa participar das concessões de jeito nenhum", disse uma fonte da agência. Com cerca de 3 mil empregados, a FCA leva cargas de sete Estados (MG, ES, RJ, SE, GO, BA e SP) e do Distrito Federal. Tem 500 locomotivas e mais de 12 mil vagões.


O Valor enviou uma série de perguntas à Vale sobre o assunto, entre as quais se questionou se a empresa teria interesse em participar dos leilões de concessão. Por meio de nota, a Vale encaminhou uma única declaração, informando que as concessões de novas ferrovias contribuirão com o desenvolvimento da infraestrutura brasileira e terá sinergia com o atual sistema ferroviário, "além de contribuir com o aumento dos volumes hoje movimentados pelas ferrovias, o que vai totalmente ao encontro dos nossos interesses".


Alguns trechos do pacote de concessões já tinham estudos iniciados. Por exemplo, a ligação de Uruaçu a Lucas do Rio Verde, que irá compor a chamada "Ferrovia da Soja" e que já vinha sendo analisada pela estatal Valec. O segundo lote (7,4 mil km) envolve estudos de seis trechos: Uruaçu/Corinto/Campos; Salvador/Recife; Rio de Janeiro/Campos/Vitória; Belo Horizonte/Salvador; Maracaju/Mafra; e São Paulo/Mafra/Rio Grande. Os relatórios têm de ficar prontos até fevereiro para licitação até junho.


terça-feira, 13 de novembro de 2012

Subindo no telhado

Chineses suspendem siderúrgica no porto do Açu

11/11/2012 - Folha de S.Paulo

Sócia de Eike Batista na mineradora MMX, a siderúrgica estatal chinesa Wuhan Iron and Steel Corporation (Wisco) arquivou sua participação no complexo siderúrgico de porto do Açu, alegando que o lado brasileiro não construiu a infraestrutura necessária para o projeto.
"Ferrovias, terminais portuários --eles não construíram nada. O mercado também não está lá, portanto, nós paramos as conversas neste momento e não estamos pensando nisso", disse neste domingo o presidente da Wuhan, Deng Qilin, à agência de notícias Reuters.
Em 2010, a Wisco, quarta maior produtora de aço da China, começou a negociar o complexo siderúrgico com a LLX, empresa do grupo EBX, de Eike Batista. O projeto foi orçado na época em US$ 5 bilhões.
No final do ano anterior, a estatal chinesa havia comprado 21,52% da mineradora MMX por US$ 400 milhões.
O setor siderúrgico chinês enfrenta um ano turbulento devido à desaceleração da economia no mundo e na China, provocando um excesso de produção, dívidas crescentes e preços em queda.
"Este é o ano mais difícil para o setor de aço chinês porque toda a economia mundial enfraqueceu, e o crescimento chinês desacelerou e atravessa uma reestruturação", disse Deng. Ele afirmou que a empresa não planeja construir nenhuma siderúrgica no exterior, mas continua interessada na compra de minas de minério de ferro e de carvão fora da China para abastecer suas siderúrgicas. 


"Dane-se a siderúrgica" 

A assessoria da LLX, braço de logística do grupo EBX, de Eike Batista, e responsável pela construção do porto do Açu, informou que a empresa não se pronunciaria sobre as declarações do presidente da Wuhan, Deng Qilin.
Mas em entrevista exclusiva à Folha, em 19 de outubro, o empresário disse que o perfil do porto tinha mudado e que o empreendimento estava se transformando em um polo para a indústria offshore.
Inicialmente, o porto do Açu teria duas siderúrgicas: a da Wisco e outra da Térnium, uma das âncoras iniciais do projeto. Assim como a chinesa, a da Térnium ainda não saiu do papel. Em vez das siderúrgicas, segundo Eike, empresas ligadas à exploração de petróleo vêm se instalando na região do porto.
Já assinaram contratos para se instalar no porto do Açu as empresas NOV (National Oilwell Varco), Intermoor, Technip e Subsea7, todas do setor petroleiro. Segundo Eike, a Technip está investindo R$ 600 milhões na construção de uma fábrica no Açu; a NOV, mais R$ 400 milhões.

"Dane-se a siderúrgica. Meu shopping mudou. Não existe um complexo nessa escala para servir a indústria do petróleo. Então, caramba, foi desenhado como um porto para minério de ferro e olha o que virou. Tenho agora uma clientela que me paga três vezes mais pelo metro quadrado. Só esse pessoal já paga R$ 100 milhões de aluguel, antes do porto funcionar. Ficou um negócio mais nobre e isso ninguém fala", afirmou o empresário.


Ou seja todo o plano de reabilitação do acesso ferroviário ao porto vai para o ralo pelo ao menos em parte, pois a enorme demanda de transporte necessária para aquela região se reduz miseravelmente.

Se antes poderíamos pensar em 2 talvez até 3 rotas de escoamento para Açu hoje apenas 1 daria conta da vazão.
Como o alargamento da linha do litoral recebendo o minério para exportação, via MRS atende também o COMPERJ e tem um custo menor, esse deve ser o acesso que vai sair do papel.A princípio o governo vai receber de volta da FCA o trecho de Cataguases a Belo Horizonte, com a respectiva multa, que deve ser convertida em "investimentos" da FCA na malha, e o governo federal vai bancar a remodelagem da linha para relicitar o trecho, parte do projeto da EF354.

Ou seja o contribuinte paga para que o porto do Eike seja viável e a Vale não tome prejuízo. Mesmo que a multa seja paga o dinheiro da multa vai sumir nos ralos do governo mais rápido que a linha que a FCA abandonou...

http://www.amantesdaferrovia.com.br/profiles/blog/show?id=4981239%3ABlogPost%3A535277

A FCA poderá talvez, até converter em despesas com manutenção nas linhas que continuarão sob sua administração, como a de Cataguases (rota da bauxita), ou mesmo no alargamento da linha do litoral (Campos-Rio).

A obra da EBX passou do ponto sem retorno, agora mesmo que o império "X" quebre, o investimento feito é tão alto que alguém vai acabar assumindo o porto.

A Petrobras é candidata natural ao cargo de salvadora da pátria, já que pode usar este porto ao invés das bases planejadas em Jaconé (Saquarema-RJ) e em Ubú (Anchieta-ES), Ubú que aliás por coincidência receberia um ramal no projeto da variante litorânea sul da FCA.

A CSN e a Vale estavam a pouco tempo querendo construir um terminal conjunto em Itaguaí, num terreno que havia sido comprado pela Petrobras para a construção do COMPERJ.

Ou seja o plano B está pronto, se o Eike quebrar a Petrobras assume a bomba, cancela os outros 2 portos, e depois entrega a capacidade não utilizada do porto a Gerdau, CSN e a Vale.

O projeto de Açu de certa forma está ligado o aumento da capacidade do porto de Sepetiba e do Rio, tanto para o escoamento de minério de ferro de Minas Gerais quanto para os produtos do COMPERJ em Itaboraí, o pavoroso é saber que caso a modelagem do empreendimento continue a dar errado, a exportação de coque e de produtos petroquímicos do COMPERJ pode acontecer via rodovia!! Pela atual obra do arco rodoviário do Rio...