terça-feira, 20 de outubro de 2015

Desafios técnicos e econômicos da recuperação das ligações ferroviárias do Norte Fluminense com Minas Gerais parte I

Introdução, situação atual e a MRS.


A EF354 ou ferrovia intercontinental é um eixo de deslocamento previsto no plano nacional de viação - PNV que permitiria a partir do litoral norte do RJ atingir Rondônia e o Perú e dapi o oceano pacífico passando pela zona de mineração do vale do rio doce em MG, pelo vale do rio São Francisco ainda em MG, cruzando o vale do rio Araguaia.
A atual EF-354 é na verdade a junção de vários trechos de pequenas ferrovias construídas, sem muito planejamento, na virada do século XIX para o século XX, e que foram aglutinadas na ampla malha de bitola métrica da EF Leopoldina e na EFCB, ambas mais tarde incorporadas pela RFFSA, hoje o que resta dessas ferrovias é a Três Rios - Recreio - Cataguazes, operada pela FCA no transporte de bauxita.



Existe hoje um interesse econômico pela reativação de uma parcela maior dessas linhas devido ao transporte de minério de ferro das jazidas no entorno de Belo Horizonte, para consumo e exportação no litoral norte do estado do RJ em São João da Barra, no projeto do complexo de Açu
As principais ferrovias  nesse entorno, que na prática funcionam como gigantescas correias transportadoras de minério,  para o portos são:
A MRS, de bitola de 1,6m que escoa o minério em direção a siderúrgicas fluminenses e paulistas e ao porto de Sepetiba no RJ, e a EFVM em bitola de 1m em direção ao vale do rio doce e daí para o porto de Vitória-ES.
Tanto a MRS quanto a EFVM possuem o foco no transporte do que as suas empresas controladoras produzem, minério de ferro e siderúrgicos, não restando espaço para outras grandes outras cargas devido a capacidade ociosa baixa de suas linhas.
Em especial a MRS, que embora não tenha muito espaço ocioso possui enorme espaço para crescimento, e tem inclusive se lançado em busca de containers operados em trens expressos.
A MRS é o resultado da concessão das SR3 e SR4 da finada RFFSA, dentro dessas linhas existem 2 corredores de exportação de minério, a velha linha do centro da EFCB (LC) e a ferrovia do aço (FA).
A linha do centro é mais antiga e possui um  traçado mais sinuoso,com rampas íngremes  e muitos túneis, além de atravessar diversas cidades. A FA é bem mais moderna possui amplos raios de curva, é isolada de centros urbanos e rampas mais leves.

Tanto a LC quanto a FA são ferrovias de linha singela, ou seja para os trens trafegarem em sentidos opostos os mesmos um dos trens tem que aguardar parado em um pátio enquanto o outro se move, o que limita enormemente a capacidade da via.
A MRS opera seus trens num sistema de carrossel onde os trens de minério carregados descem pela FA até Barra do Piraí e daí pelo trecho de linha dupla da LC na serra do mar até Sepetiba onde descarregam e iniciam o retorno para Barra do Piraí de onde seguem de volta as minas pela LC.
Tanto a FA quanto a LC tem planos para a duplicação, sendo a a FA já foi projetada como uma linha dupla e tem boa parte do trecho preparado para receber a segunda linha. A LC possui um projeto de duplicação anterior a FA mas não teve obras iniciadas nesse sentido, apesar de possuir vários pátios de cruzamento curtos desativados ainda na época da RFFSA.
A MRS já sinaliza interesse em ampliar sua capacidade através da conclusão das obras da FA, a poucos anos o trecho entre o ponto de chegada da FA em Saudade próximo a Barra Mansa e Barra do Piraí foi duplicado, além de ter sido duplicado também o trecho Guedes Costa - Brisamar e eliminado, através de um viaduto,um cruzamento com os trens urbanos da supervia em Guedes Costa (Km 64).
A MRS anunciou obras de ampliação de pátios da FA, que devem passar a receber trens mais longos, os atuais tem 132 vagões e estão em testes trens com tração distribuída(locotrol) além de vagões mais pesados do tipo GDU e novo sistema de sinalização CBTC, sendo estas melhorias feitas no sentido de eliminar ou reduzir a quantidade de trens de auxílio, liberando assim mais janelas de circulação.
A eventual conclusão da FA permitiria trens de retorno, principalmente os vindos de São Paulo, liberarando a LC de muitos trens de retorno vazios, podendo voltar a exercer a função de linha de exportação.


O carrossel da MRS representado pelas setas azuis, entre Barra Mansa e Sepetiba a linha é dupla e tanto os trens de exportação quanto de retorno trafegam no mesmo traçado.

Apesar da MRS mostrar disposição em aproveitar as obras inacabadas da FA para duplicar pelo ao menos parcialmente a linha, este é um investimento de alto custo e questões políticas como conflitos de interesse com as controladoras da MRS e o  fato dessa malha se tratar de uma concessão em que o investimento de ampliação da malha será absorvido pelo governo ao final podem deslocar a atenção dessa abordagem em benefício de outras.
A MRS é controlada por um grupo de mineradoras entre elas as maiores são Vale e CSN e GERDAU, o maior interessado em aumentar a exploração de minério no entorno de B. Horizonte era Eike Batista rival da Vale e CSN e profundo desafeto do ex-presidente da Vale Roger Agneli.

A GERDAU na época de Eike Batista vinha demonstrando interesse no projeto mina-porto-complexo industrial de Açu, que é uma a rota de expedição do minério da Anglo.
Hoje com a quebra do conglomerado de Eike alguns desses conflitos de interesse desapareceram, as obras do porto prosseguiram pelas mãos da Prumo logística ao invés da LLX, com o foco na exportação de minérios, sem o complexo industrial previsto, porém surgiram outros problemas como a queda do preço das comodities no mercado internacional o aumento da taxa de juros e a maior aproximação do fim do prazo de concessão da malha da MRS.

Desse embate não se sabe qual será o acordo que viabilizará a extração e exportação desse minério mas existem algumas possibilidades mais imediatas que vamos abordar na próxima postage.

Sobre o projeto de Açu:

http://lauaxiliar.blogspot.com/2011/10/eike-salvara-linha-auxiliar.html

Os PNV e a EF 354

http://vfco.brazilia.jor.br/Planos-Ferroviarios/0-Planos-Ferroviarios.shtml

 http://vfco.brazilia.jor.br/ferrovias/Valec/ValecConcessoes.shtml

2 comentários:

  1. Eu ainda sonho ver um dia estas ferrovias transportando gente e outros tipos de carga.

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    1. Pois é Leonardo, levou cerca de 35 anos para que uma parcela da EF Rio D'Ouro fosse substituída por uma linha de metrô no RJ, fazendo um paralelo estas ferrovias foram desativadas na década de 90, espero que na próxima década elas voltem a operar, e que o governo negocie bem com os interessados para colocar trens de passageiros e abrir espaço para a carga geral nestes trechos.

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