28/09/09 - 08h38
Plinio Fajardo Alvim http://www.leopoldinense.com.br/base.asp?area=colunas&id=978
No dia 8 de outubro de 1874, com a inauguração das Estações de São José (Km-
3), Pântano (Km-12) e Volta Grande (Km-27), entrava em operação a Estrada de
Ferro Leopoldina - a primeira ferrovia genuinamente criada em Minas Gerais. A
Estação do Pântano recebeu, posteriormente, o nome de Estação Antonio Carlos,
em homenagem ao Comendador Antonio Carlos Teixeira Leite, proprietário da
fazenda em cujas terras foi erguida a primitiva Estação de Dores do Pântano, hoje
denominada Fernando Lobo – em memória de Fernando Lobo Leite Pereira,
Deputado, Senador, Ministro das Relações Exteriores, Ministro Justiça e Negócios
Interiores no Governo Floriano Peixoto, Constituinte de 1891, Diretor e Vicepresidente
do Banco do Brasil, irmão de Américo Lobo Leite Pereira, que foi
Governador do Paraná e advogou em Leopoldina em fins do séc. XIX. As Estações de São José e de
Volta Grande ainda permanecem com suas denominações originais. Além Paraíba é, portanto, o
berço da E. F. Leopoldina, no Brasil.
Estiveram presentes à solenidade de inauguração Sua Majestade o Imperador Dom Pedro II,
vários integrantes do Corpo Legislativo, o Ministro da Agricultura – Conselheiro José Fernandes da
Costa Pereira, os Conselheiros Christiano Benedicto Ottoni e Ignácio Marcondes Homem de Mello,
além de diversas personalidades do Império, da Província, do Município e da região.
Até um pouco antes, aqui nesta zona, o transporte ferroviário chegava somente até a Estação de
Porto Novo – ponto final da 3ª Seção da Estrada de Ferro D. Pedro II, depois chamada Estr. de Ferro
Central do Brasil. Até então, o transporte do café produzido nesta região era feito sobre o lombo das
tropas de burros e mulas, para se alcançar o fundo da baía da Guanabara e, daí, chegava ao Rio de
Janeiro. Esta 3ª Seção foi construída a partir de iniciativa de Christiano Benedicto Otonni que,
mesmo tendo deixado a presidência daquela Ferrovia, criou uma empresa, denominada Companhia
Mineira, para se incumbir da construção do citado trecho. Para obter recursos, Ottoni emitiu Cartacircular
aos cafeicultores da Mata mineira, solicitando a subscrição de ações da empresa (Este
pesquisador possui exemplar desta carta, datada de dezembro de 1866 e dirigida a seu tetravô,
Joaquim Honório de Campos, então futuro Barão do Rio Pardo, vereador à Intendência de Leopoldina
e fazendeiro em Piedade, atual Piacatuba). A obra foi realizada sob a supervisão do Eng. Francisco
Pereira Passos que, tempos depois, tornar-se-ia Prefeito do Rio de Janeiro, então Distrito Federal.
Em 2 de agosto de 1871, foi inaugurada a Estação de Porto Novo, ponto terminal da referida 3ª
Seção da Estrada de Ferro D. Pedro II. O tráfego foi aberto, oficialmente, no dia 6 de agosto. Porto
Novo foi também o marco inicial (Km-0) da Estrada de Ferro da Leopoldina.
O que muitos não sabem é que o nome da empresa não é uma homenagem à Imperatriz
Dona Leopoldina - mãe de D. Pedro II. Na realidade, o Governo Provincial Mineiro, através da Lei nº
1826, de 10.10.1871, autorizou a construção de uma ferrovia que, partindo de Porto Novo, chegasse
à cidade de Leopoldina. Portanto, a Estrada de Ferro Leopoldina tem esse nome por causa da
cidade de Leopoldina.
A construção da Leopoldina esteve a cargo do Concessionário, Eng. Antonio Paulo de Melo
Barreto (Visconde de Melo Barreto, em Portugal), também o primeiro Presidente da Companhia. As
obras prosseguiram rapidamente e - além de São José, Pântano e Volta Grande - foram também
entregues ao tráfego, ainda em 1874, as Estações de São Luiz (Km-37) - atual Trimonte - e de
Providência (Km-43). Alegando questões de ordem técnica, Melo Barreto obteve, em 14 de agosto
de 1876, autorização para alterar o terminal da linha-principal (Porto Novo/Leopoldina), inicialmente
previsto, e a estrada foi levada até Sta. Rita do Meia Pataca, atual Cataguases. A mudança gerou
insatisfação nos leopoldinenses, que lutaram pela criação de um Ramal para ligar Leopoldina ao
tronco principal, em Vista Alegre. A Estação de Cataguases foi inaugurada em 2 de julho de 1877. A
Estação da Cidade de Leopoldina foi inaugurada em 31.07.1877.Estava cumprida a missão para
a qual se formara a Cia. Estrada de Ferro Leopoldina.
A exemplo do ocorrido com a Ferrovia Dom Pedro II, os principais financiadores da E. F.
Leopoldina foram os grandes cafeicultores da região, merecendo destaque o mencionado
Comendador Antonio Carlos Teixeira Leite, proprietário da aludida Faz. do Pântano, filho dos Barões
de Itambé e irmão dos impulsionadores da ferrovia na região de Vassouras-RJ. Esta fazenda
passaria, mais tarde, a seu genro, José Joaquim Álvares dos Santos Silva - o Barão de São Geraldo
- ex-Presidente da Câmara Municipal de Além Paraíba (equivalente a Prefeito, hoje) e ex-Diretor da
E. F. Leopoldina.
Em abril de 1881, Santos Silva hospedou, na fazenda, o Imperador D. Pedro II e a Imperatriz
Dona Teresa Cristina, quando de sua viagem ferroviária à província mineira. O livro que contém a
assinatura de ambos, registro de sua visita à fazenda – já demolida – e à Capela de N. Sra. do
Rosário do Pântano, ali ainda existente (hoje tombada como Patrimônio Histórico do Município de
Volta Grande), pertence agora ao acervo do Museu Imperial de Petrópolis. Segundo o ilustre
historiador Oiliam José, a Estação de São Geraldo – embrião da atual cidade de São Geraldo-MG –
foi assim denominada em homenagem ao Barão.
Nessa memorável viagem, D. Pedro II e D. Teresa Cristina visitaram inúmeras cidades da região.
O Imperador deixou registradas em seu diário muitas das ocorrências havidas durante a jornada,
como sua passagem por Além Paraíba (Porto Novo), Pirapetinga, Vista Alegre, Leopoldina,
Cataguases, São João Nepomuceno, Bicas, Rio Novo, São Geraldo, Presídio (Visc. Rio Branco), e
outras, na região. Além de consignar o pernoite na Fazenda do Pântano, entre 28 e 29 de abril de
1881: "28 (5ª fª)... Aí (Porto Novo) tomei o vagão aberto e muito cômodo a estrada de ferro da
Leopoldina (sic). ... Estação do Pântano e daí a pé até casa que é uma espécie de palácio sobretudo
internamente e situada no cimo de uma colina de Santos Silva um dos diretores da Leopoldina
casado com a filha de Antonio Carlos Teixeira Leite, que era o dono da fazenda há 2 anos e sobrinha
do barão de Vassouras (sic). Cheguei aqui às 3 ¼. Já tomei excelente banho em quarto destinado a
esse fim e o jantar é às 6h. ... Jantar às 6h. Depois conversei. ... 29 (6ª fª) 5h ¼. Já tomei banho de
chuveiro. ... Às 5 ½. Vou ver a capelinha da fazenda e parte o trem às 6h. A capela é pequena,
porém singela e bonita internamente. Roseava a neblina quando para ela subia. Partida às 6 h". No
dia 30 de abril de 1881, um sábado, retornando de Ubá, D. Pedro II passou por Leopoldina, aonde
chegou às 11 ½ h; sendo recebido por comissão formada por membros do Club Agrícola, da
Irmandade do Santíssimo e por Oficiais da Guarda Nacional tendo à frente o Ten. Cel. Antonio
Maurício Barbosa. Os integrantes da Câmara – com matizes republicanos – não participaram desta
comissão. Também foi saudado por quatro bandas-de-música. Almoçou, visitou a Cadeia, a
Câmara, o Colégio N. Sra. do Amparo e a Matriz. Embarcou na Estação às 13 ¾ h, com destino à
Côrte.
Com o passar do tempo a E. F. Leopoldina foi construindo novas linhas e comprando outras
ferrovias, sempre mantendo o seu nome original que, inclusive, substituía as denominações das
empresas adquiridas. Em 1891, a rede da Leopoldina já abrangia 2.127 km nos Estados de Minas
Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro. Em 1893, após passar por grandes dificuldades financeiras,
a empresa amargava uma gravíssima situação deficitária, já tendo substituído, por várias vezes, a
sua Diretoria.
No final de 1894, ocorre, em Além Paraíba, uma desastrosa Epidemia de Cólera, já disseminada
pelo Vale do Paraíba. A população, para prevenir o contágio, arrancou muitos quilômetros de trilhos
na região, aumentando os prejuízos e as dificuldades da Companhia, que continuaram a se
avolumar nos anos seguintes.
Após tomar inúmeros empréstimos externos que não conseguia saldar, a empresa era,
finalmente, transferida para o controle inglês. No dia 16 de dezembro de 1897, foi criada em Londres
a The Leopoldina Railway Company Limited, que foi autorizada a funcionar no Brasil pelo Decreto
nº 2.797, de 14 de janeiro de 1898. Nessa época, apesar de já possuir cerca de 2.900 km de linhas,
a Leopoldina ainda não alcançava a cidade do Rio de Janeiro, chegando apenas até Niterói e ao
fundo da Baía da Guanabara. O contorno da Baía, terminado em 1925, foi uma obra dispendiosa e de
difícil execução, devido às áreas pantanosas que exigiram a construção de grandes aterros e pontes
com estaqueamento profundo. A Estação Barão de Mauá, localizada na Av. Francisco Bicalho, na
então Capital da República, foi inaugurada em outubro de 1926. Desta Estação deverá partir o "Trem
Bala", projeto orçado em mais de R$ 30 bilhões, para a ligação ferroviária, em alta velocidade, entre
Rio-São Paulo-Campinas.
Em 30.04.1949, os ingleses deixaram a direção da Leopoldina, que passou a ser exercida por
um administrador-geral designado pela União, após acordo firmado entre aqueles acionistas e o
Governo brasileiro. Em 20.12.1950, pela Lei nº 1.288, o Governo Federal encampou a Leopoldina
Railway que voltou a denominar-se Estrada de Ferro Leopoldina, ficando sob a jurisdição do
Ministério da Viação e Obras Públicas, e subordinada ao Departamento Nacional de Estradas de
Ferro. A malha ferroviária da Companhia, nessa época, superava os 3.000 km. No dia 16 de março
de 1957, foi criada a Rede Ferroviária Federal S.A., à qual a Leopoldina foi incorporada e sob cuja
denominação permaneceu até 1998, quando foi adquirida pelaFCA – Ferrovia Centro Atlântica,
após os processos de privatização das ferrovias federais. A Estação e o Ramal de Leopoldina foram
oficialmente desativados em 25.02.1965.
Atualmente, nas instalações das Oficinas da Leopoldina – inauguradas na década de 1880 e que
já empregaram milhares de funcionários que fazem parte da memória histórica e social de Além
Paraíba – funciona a Eletromecânica GITAL, empresa especializada na montagem e reforma de
equipamentos ferroviários, responsável pela construção dos dezoito carros de passageiros e vagões
temáticos que compõem o Trem turístico que liga Ouro Preto à Mariana. A pequenina e singela
Estação de São José, relíquia memorável do trem, no Brasil, é a Primeira Estação da Estrada
de Ferro Leopoldina no país. Em 1999, foi transformada em Museu da E. F. Leopoldina,
administrado pela ABPF-PN - Associação Brasileira de Preservação Ferroviária/Seção Porto Novo.
Estas construções e as demais (Casa da Balança, Rotunda, Escritório e Oficinas, Estações de
Porto Novo e Fernando Lobo, Ponte de Mello Barreto, entre outras), que formam o Complexo
Histórico Ferroviário de Além Paraíba, foram tombadas pelo Patrimônio Histórico e Artístico
Municipal. Constituem - ao lado da Locomotiva 51, construída nos EUA, em 1880, pela The Baldwin
Locomotive Works - os principais pilares para a implementação do Projeto Turístico-cultural
'®Trem-do-Chorinho', com um forte viés social eligando Além Paraíba a Volta Grande,
desenvolvido pela ONG Instituto CULTURAR, em parceria com a ABPF-Porto Novo e a Associação
Gestora do Circuito Turístico das Áreas Proibidas.
Em breve, teremos um novo projeto de trem turístico-cultural, denominado 'Expresso
Humberto Mauro', ligando Cataguases à Volta Grande. É a Leopoldina revitalizada, criando novas
perspectivas econômicas e sociais para a região. Ou, como diria Aloísio Magalhães, designer gráfico
e ex-diretor do IPHAN:
'O tempo cultural não é cronológico. Coisas do passado podem, de repente, tornar-se
altamente significativas para o presente e estimulantes do futuro'.
(*)Plinio Fajardo Alvim – Leopoldinense. Pesquisador da História Regional. Conselheiro-fundador e Diretorsecretário
da ONG Instituto CULTURAR, de Angustura. Ferroviarista. Integrante do Mov. de Preserv. Ferroviária e
da Ass. Bras. de Preserv. Ferroviária. Delegado-fundador da Ass. Gestora do Circuito Turístico das Áreas
Proibidas. Ex-integrante do Cons. Munic. de Turismo de A. Paraíba(2000-2004). Coord. Regional da ONG Grupo
Brasil Verde em A. Paraíba. Membro do Codema e do 'Fórum-21-Além' (2009-2011).
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