sexta-feira, 5 de março de 2010

Essa é de São Paulo! mais um candidato ao troféu cara de pau!

Cartaz do Metrô de São Paulo limpa estação de Sacomã digitalmente. Campanha publicitária do Plano de Expansão apagou até imóvel vizinho que ficou com rachadura após obra.

Bruno Ribeiro - Jornal da Tarde

SÃO PAULO - Para embelezar a nova estação Sacomã, na zona sul, inaugurada no final de janeiro, a campanha publicitária do Metrô apagou imóveis vizinhos à estação, faixa de pedestres e até postes e fios elétricos da foto que estampa os cartazes de divulgação da obra, espalhados pelas outras estações da rede. Um dos imóveis apagados, um prédio de 12 apartamentos, está com rachaduras e ficou torto após a construção da estação. E até agora os moradores não sabem se o Metrô pagará a reforma.




http://www.estadao.com.br/fotos/monta_sacoma.PNG

Imagens: Clayton de Souza/AE e reprodução

As fotos da propaganda têm um laço de presente verde (a cor da linha que percorre o Sacomã), não trazem nenhuma mensagem informando que a imagem é ilustrativa ou que passou por tratamento digital. Quem vê é induzido a acreditar que aquela imagem é mesmo a da estação. As fotos também não mostram uma garagem do Metrô que faz parte da estação. Em alguns dos cartazes, ela foi substituída por um pequeno prédio, que estaria ao fundo da estação, e simplesmente não existe.

Além do prédio torto, a foto também apagou os ventiladores de uma fábrica instalada no fundo da estação, trocou o formato de uma árvore e também sumiu com um semáforo para pedestres instalado em frente à entrada.


Para o professor de propaganda Paulo Andre Bione, da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), o fato de a foto apagar imóveis é "abuso". Ele afirma que o Photoshop (programa que altera imagens) é uma ferramenta publicitária importante e que a publicidade tem o papel de "embelezar a realidade", mas não alterá-la. "Eu não tiraria um poste", diz. "O que se pode fazer é mudar o Sol, se não estiver em um dia bonito, realçar o verde (da vegetação). Fazer correções, não enganar as pessoas."


Um levantamento feito pela bancada do PT na Assembleia Legislativa, à pedido do JT, mostra que, só no ano passado, o Metrô assinou contratos de publicidade que, somados, dão R$ 56 milhões. É quase dez vezes o que era gasto, por ano, em média, até 2008: R$ 5,4 milhões, segundo o relatório.


RACHADURAS


Um morador do prédio apagado da foto disse que, durante a obra, o Metrô pagou alguns vidros que se quebraram quando as fundações eram feitas e por outros pequenos reparos. Entretanto, o terraço ficou com rachaduras e, quando chove, a água chega aos apartamentos. Eles tiveram de passar impermeabilizante no terraço para evitar mais transtornos.


Fora isso, o edifício se descolou do vizinho e tombou alguns centímetros para a direita (em direção à estação) e, agora, a água vai em direção oposta ao ralo.


METRÔ: HOUVE UM 'RETOQUE'


O Metrô negou que a foto acima seja uma montagem. Segundo a companhia, o que houve foi um "retoque" para destacar a obra. "A foto foi retocada para destacar a imagem que é objeto do anúncio, ou seja, a estação Sacomã. O retoque destaca a arquitetura da estação", diz a empresa. O Metrô foi questionado, mas não disse qual foi a vantagem para a população em ver anúncios de uma obra pronta que não são iguais à realidade.


Já sobre os danos que ficaram em um dos imóveis apagados da fotografia, apontados por moradores, o Metrô disse que "monitorou, a exemplo do que faz em outros casos, as rachaduras para descartar possíveis riscos à segurança do edifício.


O setor de relacionamento com a comunidade e os engenheiros responsáveis pela obra fazem reuniões periódicas com o conselho de moradores. Com a conclusão da obra, o Metrô realiza as últimas vistorias e análises necessárias para tomar as providências cabíveis."


Com relação aos gastos com publicidade, o Metrô disse que eles "acompanharam o aumento dos investimentos no setor" e que, desde 2007, a companhia tem investido R$ 21 bilhões na expansão do sistema de transportes. A propaganda, diz o Metrô, é "uma maneira eficiente para comunicar à população sobre os benefícios que o Plano de Expansão tem proporcionado."

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