Natália Cacioli - O Estado de S. Paulo
20 Junho 2016
Calculadora disponível no site do ‘Estado’ compara os custos de vários tipos de modais na cidade de São Paulo, de acordo com percurso escolhido
Em São Paulo, uma metrópole de transporte público
limitado, horas perdidas no trânsito e carros populares que custam R$ 40
mil, o veículo cada vez mais perde a característica de propriedade para
se tornar um serviço. Calculadora desenvolvida pelo DataCustos e Zilveti Advogados, a pedido do Estado, confirma essa tendência.
Os números mostram os novos sistemas de transporte como uma opção
econômica para quem pretende vender o veículo e morar perto do trabalho.
Na ferramenta, disponível no site do Estado,
foram calculados os custos por quilômetro para carro, moto, táxi, Uber,
bicicleta e transporte público. Em um percurso de 10 quilômetros por
dia, o custo de um carro popular (Gol) fica empatado com o do táxi na
bandeira 1, em R$ 40. Já o UberX, modalidade de veículos compactos da
empresa, é cerca de 30% mais barato. Na versão compartilhada, chamada de
UberPool, o custo cai ainda mais, para R$ 19,90.
“Carro não é investimento. Em termos econômicos, quem compra
só perde dinheiro”, diz Nelson Beltrame, sócio diretor do DataCustos e
autor da pesquisa. O levantamento leva em consideração diversos custos
para calcular o preço por quilômetro do veículo particular: depreciação,
manutenção (pneus, óleo, filtro de óleo, filtro de ar e filtro de
combustível), seguro, seguro obrigatório, IPVA e combustível. Beltrame
explica que quanto menos o carro é usado, maior é a parcela dos custos
fixos por quilômetro. Por isso, para quem anda pouco, ter um carro é um
péssimo negócio.
Para o veículo valer a pena em relação ao UberPool, é preciso
rodar ao menos 24 km por dia. Mas, considerando o preço inicial do
veículo, o gasto para mantê-lo e o tempo perdido no trânsito, o educador
financeiro Rafael Seabra recomenda a venda. “Uma opção para economizar é
organizar caronas com colegas e, em alguns casos, até morar próximo ao
trabalho.” Alternar o carro compartilhado com o transporte público –
cuja oferta é maior no centro expandido – também é uma opção.
No ano passado, segundo pesquisa da Rede Nossa São Paulo, a
percepção em relação ao trânsito piorou e mais paulistanos disseram que
iriam para outra cidade se pudessem.
“Mais do que uma questão de custo de vida, é uma questão de
horas de vida”, diz a coordenadora do curso de economia criativa e
cidades criativas do Programa de Educação Continuada da FGV, Ana Carla
Fonseca.
Alternativas. A produtora de locação Isabella
Alves, de 24 anos, uniu a falta de vontade de dirigir no trânsito
caótico de São Paulo ao baixo preço do Uber e colocou seu carro à venda.
“Como moro em um bairro central, boa parte das empresas e locais de
filmagem que vou são próximos da minha casa. Muitas vezes a corrida não
chega nem a R$ 10”, diz Isabella, que calcula rodar por volta de 10
quilômetros diariamente.
O advogado tributarista e também autor da calculadora Fernando
Zilvetti, questiona, no entanto, a falta de equilíbrio competitivo no
mercado – a principal questão de conflito entre Uber e taxistas. Segundo
ele, o aumento da concorrência é positivo, mas também depende de
igualdade tributária para crescer e oferecer preços sem distorções. Sem
isso, é difícil afirmar que os baixos valores do Uber, por exemplo,
serão sustentáveis. A regulamentação definida pela Prefeitura de São
Paulo prevê pagamento de créditos de R$ 0,10 para cada quilômetro
rodado.
A própria Prefeitura tem tomado ações para incentivar o uso do
carro compartilhado e a intermodalidade. Segundo Ciro Biderman, diretor
de inovação da São Paulo Negócios, já está sendo discutida a ideia de
um Bilhete Único que integre vários modais, incluindo os compartilhados.
“Já imaginou você sair de casa pela manhã, pegar uma bicicleta com seu
Bilhete Único, depois um ônibus e voltar de Uber?”
Além disso, uma resolução liberou um “bônus” para as empresas
de compartilhamento: para cada quilômetro percorrido, é descontado 1
quilômetro do limite que as empresas têm para operar.
Apesar da vantagem do preço, dividir um carro com um
desconhecido ainda esbarra em barreiras comportamentais. Reticente no
início, a produtora Isabella decidiu lutar contra a timidez e hoje é
usuária do serviço. “É impressionante ver quantas pessoas estão se
movendo exatamente para o mesmo lugar, ao mesmo tempo”, diz. / COLABOROU
NATHÁLIA LARGHI, ESPECIAL PARA O ESTADO
Nenhum comentário:
Postar um comentário