Um grande amigo me perguntou hoje se ele, do alto do seus 71 anos
bem vividos, ainda veria, um dia, um trem bala rodando no Brasil?
Eu
respondi que "bala no trem" tem mais chances... e a "bala" a que me
refiro não é só a de fuzil, mas também é é a que mata os bons projetos,
que sangra os cofres públicos e privilegia as "otoridades
(in)competentes".
O artigo abaixo é um bom exemplo disso.
Abs e Bom Domingo, (se puder)
Duas ferrovias Vejam 12/06/2016
J.R. GUZZO
OS VIAJANTES que vão de Zurique, de outras cidades da Suíça e da maioria dos países da Europa para Milão e para o norte da Itália já estão rodando a até 250 quilômetros por hora na linha de trem que passa pelo novo túnel do Monte São Gotardo, a mais recente maravilha da engenharia mundial - com quase 60 quilômetros perfurados na rocha bruta, é o túnel mais longo do mundo, e sua construção tornou-se uma epopeia comparável à da travessia subterrânea do Canal da Mancha, entre Inglaterra e França.
Sempre
se pode dizer: "Não dá para comparar a Suíça com o Brasil". Não dá
mesmo - não é realista, não é lógico e é inútil. A Suíça é uma coisa, o
Brasil é outra, e não existe nenhuma previsão, pelo menos por enquanto,
de que fiquem mais parecidos algum dia em termos de conduta por parte do
poder público. Ainda assim, o caso das duas ferrovias oferece uma
excelente oportunidade para pensar um pouco nessa coisa ruim chamada
"governo". Tudo bem, ninguém está querendo por aqui que os governantes
tenham um desempenho semelhante ao de lá; mas, francamente, também não
há nenhuma obrigação de serem tão ruins desse jeito. A Transnordestina,
lançada em 2006 para ligar os portos de Pecém, no Ceará, e Suape, em
Pernambuco, além de abrir um novo acesso ao mar para o interior do
Piauí, deveria ser entregue em 2010. Não foi. Já estamos em 2016 e nada -
não há no momento nem sequer um palpite sobre a data de entrega.
Descobriu-se que as obras foram iniciadas sem um projeto de engenharia
coerente.
Não existe nenhuma dificuldade
geográfica especial na área (nada de túneis a 550 metros de altitude,
por exemplo), mas dos 1700 quilômetros da estrada só há trilhos em 600,
onde não passa trem algum. Sua função, no momento, é serem estragados
pelo tempo ou furtados para a venda a peso do seu aço. O novo túnel do
maciço de São Gotardo, aberto ao público dias atrás, foi entregue
seis meses antes do prazo contratado e custou o que deveria custar - o
equivalente a pouco mais de 10 bilhões de dólares. Por uma dessas
coincidências da vida, a soma é praticamente igual aos 35 bilhões de
reais de dívida que as empresas estatais responsáveis pela
Transnordestina têm a apresentar como resultado de seus esforços até
agora. Dá o que pensar. Quando a Suíça resolve fazer uma estrada de
ferro, as pessoas passam a andar de trem; no Brasil, ficam devendo. É
lindo, isso.
Também chama atenção, no
caso, um fenômeno curioso, que provavelmente só acontece no Brasil:
quanto mais a tecnologia avança no mundo desenvolvido, mais as obras
públicas brasileiras demoram para ficar prontas. Numa época em que a
ciência da engenharia é capaz de vencer os mais ingratos desafios da
natureza, dentro dos prazos e dos orçamentos previstos, é como se o
Brasil estivesse vivendo no tempo da régua de cálculo e do trator a
gasolina; no ritmo de trabalho seguido pelos dois últimos governos, a
Ponte Rio-Niterói ainda estaria em obras. Estradas como a
Transnordestina, segundo apontou o TCU,
apresentam "vícios de construção" e "erros primários" de técnica
ferroviária. A transposição de águas do Rio São Francisco é uma coleção
de ruínas. Usinas hidrelétricas geram energia inútil, porque não há
linhas de transmissão - e por aí se vai. Para piorar, o governo que não
faz é o mesmo governo que não deixa fazer, na sua paixão contra o
resultado prático e no seu pânico diante de qualquer benefício público
feito pela iniciativa privada. Nesse meio-tempo, o mundo continua a
girar. A primeira ferrovia do São Gotardo é de 1882; por lá, já estão na
terceira. Por aqui, a grande discussão é saber se os que não fizeram
vão voltar ao governo para continuar não fazendo.
Antonio Pastori - Ferroviarista & Pesquisador
+55 (21) 99911 - 8365
"O Homem aprende apenas de duas formas: a primeira é por meio da leitura e a segunda é associando-se com pessoas inteligentes": Will Rogers
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Assine o nosso manifesto pela volta do trem a Petrópolis em: http://www.manifestolivre. com.br/ml/assinaturas.aspx? manifesto=expresso_imperial
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